quarta-feira, 1 de junho de 2011

o cubismo e sua influência na arquitetura

No século XIX havia a crença de que a indústria e a técnica possuíam um significado exclusivamente funcional, as artes foram deixadas em um segundo plano, longe da vida cotidiana, de forma que ficaram isoladas e autônomas. Dessa forma a vida perdeu o equilíbrio e sua unidade, enquanto que, do outro lado a ciência e as indústrias evoluíam. Há quem considere a indústria e a ciência opostas à arte e ao sentimento, pois acreditam que quando uma desenvolve, a outra entra em decadência. Todavia é importante ressaltar que nenhum estágio de desenvolvimento pode ser mantido quando separado do emocional, é por isso que grandes artistas valorizam objetos pessoais, de valores emocionais, como vemos nas obras de Picasso, Juan Gris e Le Corbusier; artefatos despretensiosos na mão desses artistas alcançaram verdadeiros significados.

A missão do artista é então de buscar uma relação entre o homem e o seu mundo, segundo Sigfried Giedion, “o artista criativo não busca copiar o seu entorno, muito menos nos fazer enxergá-lo através dos seus olhos. É um especialista que nos revela, em sua obra, tal qual num espelho, algo de que nós mesmos não nos damos conta: a condição de nossa própria alma. ’’ No final do século XIX e início do século XX, os arquitetos e pintores tiveram de combater os estilos conservadores ao retomarem as formas puras de expressão. Pintores de diferentes origens e formas de pensar tiveram que se unir para conseguirem moldar uma nova concepção de espaço. Foi em Paris, em 1910 mais ou menos, que
através do Cubismo com seu método de relação espacial que foi possível se configurar uma nova concepção espacial.

Durante quatro séculos, a maneira de se ver o mundo externo era tridimensional, advinda do renascimento. É então que nos períodos seguintes surge a perspectiva, que permite encontrar novas formas de percepção. Um espaço só é compreendido pelo seu caráter multifacetado, é só quando o homem se projeta através dele que sua natureza é compreendida. É no modernismo que uma nova concepção de espaço conduz a uma ampliação autoconsciente da maneira de perceber o espaço; no cubismo isso foi alcançado totalmente.


Na primeira fase do cubismo a preocupação maior estava em entender a representação do espaço – é por isso que nessa fase notamos a escassez das cores. Na pintura, os quadros possuem tons mais fechados, fragmentos de linha pairam sobre a superfície, frequentemente formando ângulos abertos que se tornam focos de tons mais escuros. Os ângulos e as linhas começam a crescer, a ser ampliados, e é então que se desenvolve um dos elementos constituintes dessa representação tempo-espaço: o plano.

Quando novos elementos aparecem (pedaços de papel, vidro, areia...), por volta de 1912, os planos ganham mais destaque. Por volta dos anos 20 o cubismo é marcado pela presença das cores em suas formas puras e com seu papel autônomo e pelo aparecimento das curvas, inspiradas ou não em objetos do dia-a-dia. Um recurso que é característico de arquitetos e artistas dessas vanguardas é o da purificação dos meios de expressão através da abstração. Outra característica dessa época era a idéia de uma vanguarda que buscasse inovação, através da rejeição das cores mortas.

Algo que os artistas modernos tiveram que enfrentar foi a idéia de que um artista dessa época tem de mudar radicalmente, se diferenciando por total dos demais estilos que o antecederam. A relação entre cultura e forma era então clara: o artista deveria buscar o sentido do movimento moderno através de uma concepção espacial que daria expressão direta ao “espírito dos tempos modernos.” Nas pinturas, podemos citar Picasso e Braque como dois artistas que faziam através de uma mistura entre a abstração e a realidade, com que o espaço e a forma se harmonizassem.

A influência do Cubismo na arquitetura não foi direta, mas sim através de alguns movimentos artísticos derivados. Charles Edouard Jeanneret, mais conhecido mundialmente por Le Corbusier, antes de ter seu próprio estilo e maneira de expressar, foi apresentado a várias
maneiras de pensar, leu diversas obras e viajou para muitos países a fim de conhecer as mais diferentes arquiteturas e formas de construções. Foi quando chegou a Paris, em 1917, que conheceu Amédée Ozenfant; que o incentivou a começar a pintar e o apresentou os ideais da arte moderna que estavam evoluindo na cidade.


Apesar de suas pinturas fazerem uso de recursos cubistas (fazendo combinação de formas abstratas com fragmentos de representações e o jogo do espaço em camadas diferentes), Le Corbusier ia contra a forma fragmentada que Picasso e Braque pintavam; ele era a favor da ordem, da precisão. Le Corbusier e Ozenfant se autodenominaram “Puristas”, o que mais tarde Le Corbusier diria ser “uma procura de seriedade no meio da confusão do Cubismo”. Os Puristas definiam sua linhagem histórica na tradição clássica, sendo um movimento que apresentava uma pintura sem valores emocionais, racional e rigorosa; adoravam artistas como Poussin, Seurat, elogiando sua dignidade e controle emocional presente nas suas obras.

natureza morta - 1920
Seus temas seguiam o do cubismo, ao utilizarem muitas vezes como inspiração objetos comuns presentes no dia a dia, como violões, garrafas e cachimbos. A obra Natureza Morta de Jeanneret, de 1920 é uma obra característica desse período; onde podemos notar claramente conceitos cubistas nas formas geométricas traçadas paralelamente à superfície do quadro, onde tanto as silhuetas como as cores, são fortes e distintas; e nas diferentes vistas, de uma tensão visual que é inserida através da sobreposição e das ambigüidades espaciais. A atividade de pintar d
esenvolvida por Jeanneret foi de muita importância para ele, uma vez que futuramente se tornou Le Corbusier, pois foi através da arte de pintar que pôde ficar mais próximo das formas e as diversas maneiras de usá-las.


Não satisfeito com o ecletismo presente no século XIX, Le Corbusier acreditava que era necessário outro vocabulário, que combinasse com seus gostos pessoais e com seu gosto pela geometria, mas que também tivesse relevância no mundo mecanizado que agora se encontrava; além
de novas formas, que no futuro abordariam valores estéticos básicos. É por isso que para ele, as pinturas Puristas lhe forneciam tudo isso, pois as formas geométricas precisas e puras seriam mais apropriadas para essa época das máquinas, que diga-se de passagem tiveram um papel importante nesse período e nesse movimento, pois eram uma resposta à necessidade de se ter ordem.
casa maison 1926-7 / le corbusier
O aprimoramento da linguagem formal de Le Corbusier também pode ser relacionado em parte com seu contato diário com a pintura. Suas obras apresentavam sempre um controle preciso dos volumes; na Casa Maison (também conhecida por Casa Cook), localizada em um subúrbio a oeste de Paris podemos notar as superfícies e os perfis.

Nessa obra, somente a fachada principal é exposta, sendo necessário então um bom acabamento a ser realizado; a fachada é quadrada, quase como igual a planta, sendo assim, a forma da casa é um cubo; a simetria presente é notada pela disposição das janelas em fita que correm de lado a lado, e pelo único piloti cilíndrico no eixo central.Le Corbusier empregou uma estrutura independente de concreto
armado, para esculpir uma sequência de espaços que se
comprimem e expandem e tem diferentes estilos, proporção, iluminação e vistas – o que remete muito à violões e garrafas
presentes nos quadros Puristas.

As paredes curvas reforçam a idéia da planta livre, captam a luz e estão como objetos no espaço bem definido; podemos claramente ver como as funções da casa foram pensadas parte por parte para serem encaixadas nesse volume cúbico.

Assim como Frank Lloyd Wright, Le Corbusier estabeleceu um sistema arquitetônico, mesclando regras lógicas, estruturais, intuitivas, um conjunto de “formas-tipos” capazes de inúmeras variações e combinações e que tratava de todas as escalas.




FONTE BIBLIOGRÁFICA:

Arquitetura moderna desde 1900 - Curtis, William K. R

Espaço, Tempo e Arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição - Giedion, Sigfried

Depois do Cubismo - Ozenfant, Amedée; Jeanneret, Charles Édouard

Le Corbusier (capítulo 2 '' A instalação em Paris: Nascimento de Le Corbusier'')

IMAGENS:

Arquitetura moderna desde 1900 - Curtis, William K. R

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